AS VERDADES INCONVENIENTES DA RIO+20
Artigo
Se os resultados da Rio+20 não foram satisfatórios, não foi por culpa da reunião em si e muito menos por causa da atuação do governo brasileiro. A culpa é da expectativa daqueles que esperavam mais do que um encontro como esse pode produzir. O documento final da conferência contém algumas medidas e avanços importantes, porém, se ele ficará para a história apenas como mais um amontoado de boas intenções, só o tempo irá mostrar. Assim como na Eco92, os delegados das comitivas estrangeiras estão retornando aos seus países cabisbaixos e com a sensação de que não foram eficientes como gostariam. Esse sentimento também marcou o fim da conferência de 20 anos atrás.
A vilã da história, mais uma vez, foi a economia global. E ao contrário do que alguns ambientalistas querem fazer crer, o momento econômico na Europa, foi sim, uma barreira importante para que algumas propostas mais ousadas fossem colocadas de lado. Os investimentos necessários à implementação da tal “economia verde” são grandes, e a maior parte dos países não consegue vislumbrar uma fonte de financiamento estável, que promova a erradicação da pobreza e a criação de mecanismos de produção mais limpos e eficientes. Economia e meio ambiente são indissociáveis. Políticas econômicas irresponsáveis podem arrasar o meio ambiente. Políticas ambientais equivocadas podem destruir a economia. Portanto, se engana quem afirma que as crises econômicas são meras desculpas para se adiar um compromisso mais forte com a saúde do planeta. Realmente não são.
Se a cúpula governamental, reunida no Riocentro, não conseguiu chegar afinada a uma solução de consenso, a Cúpula dos Povos – ou encontro das ONGs no Aterro do Flamengo – também não conseguiu apresentar propostas convincentes e viáveis para resolver os desafios mundiais. Fora as manifestações teatrais de sempre – e o palco para os oportunistas ambientais de plantão – as ONGs só conseguiram produzir um documento lamurioso, inócuo e sem importância. Mais uma vez falou-se muito e se fez pouco. Se o tempo passa para os governos, também passa para os movimentos sociais. De 1992 até hoje, foram vinte anos de manifestações coloridas, com muita tinta na cara, coletes ministeriais e cartazes apocalípticos nas mãos. E o resultado todos conhecem: o mundo não melhorou.
A ministra do Meio Ambiente do Brasil, Izabella Teixeira, fez duras críticas ao movimento ambientalista durante um dos eventos paralelos da Rio+20. Na sede do BNDES, onde participava de um debate junto com autoridades estrangeiras, a ministra foi interrompida grosseiramente por uma manifestante, que aos gritos de que o “Brasil não era um país democrático”, tentou acusar o governo brasileiro pelo fracasso das negociações. Recebeu (e muito bem recebido) o troco da ministra, que numa demonstração de extrema confiança e certeza do que falava, expôs claramente o vazio e a irracionalidade desse tipo de discurso.
Ao contrário de alguns jornalistas, que só publicaram um pequeno trecho (o que lhe interessava, é óbvio) do vídeo do embate da ministra, posto na íntegra o registro da discussão:
Para o cidadão comum, que assiste estarrecido a infantilidade de parte do movimento ambiental brasileiro fica, cada vez mais, a certeza do quanto esse segmento ainda precisa amadurecer. Movimento que, representado por algumas ONGs ambientais que participaram ativamente dos oito anos do governo do ex-presidente Lula, ajudaram, e muito, a construir uma história de retrocessos ambientais. Muitas das vozes que hoje se levantam para bradar o mantra do desenvolvimento sustentável, se calaram ao lado da ex-ministra Marina Silva, quando ocupavam cargos na Esplanada dos Ministérios.
Definitivamente a Rio+20 não pode e nem deve ser classificada rasamente como boa ou ruim. O encontro das Nações Unidas cumpriu o seu principal objetivo: foi um espaço livre e democrático para que as nações pudessem apresentar as suas visões de presente e de futuro. Daqui pra frente, devemos continuar seguindo uma máxima que nasceu na Eco92: pensar globalmente e agir localmente. Os pensamentos globais já foram postos à mesa. Agora, é a hora da ação.
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Comentários
Mário Ferreira Neto
A ministra só não explicou muito bem sobre a liberação da obra de Belo Monte jogando a bomba para o ex-ministro Carlos Minc.
Outro ponto questionável é o fato de usar como bandeira do MMA uma diminuição do desmatamento para 6 MIL KM quadrados/ano, o que continua sendo um número imenso e vergonhoso para um ministério.
Eduardo
As críticas feitas aos ambientalistas me parece um pouco exagerada. Se for pra colocar a história toda para entender o que realmente motivou essa discussão vergonhosa, deveria se fazer um retrospecto desde o início dos projetos e como foram aos poucos sendo empurrado e atropelado e desrespeitados muitas das normas e acordos para ser implantado o novo código florestal e as hidrelétricas na amazônia. Esse momento não é para ser visto como um debate onde um lado os ambientalistas e do outro o governo. Esse momento foi um momento de protesto, legítimo e democrático. Imaginamos que não houvesse esse protesto, o que seria exposto para o mundo todo, seria uma visão inteiramente governista, ditado pela criteriosa norma interna do governo para que sempre, haja o que houver, dizer que o Brasil é o melhor país em todos os aspectos, e que tudo que está errado é obra de governos antes do governo atual. Isso é norma ditada até mesmo para os funcionário públicos federais, sob pena de ser demitido ou afastado ou mesmo sofrer alguma perseguição. Portanto eu parabenizo a manifestante que se expôs desta forma e provocou uma reação contrária do que o governo do nosso país esperava vender.
Mário Ferreira Neto
Democráticas foram as discussões da Cúpula dos Povos, lá se debateu, lá se discutiu. A conferência no Rio Centro não debateu as demandas sociais e ainda se valeu de dispersar em temas de economia e direitos reprodutivos da mulher. Óbvio que ambos os temas possuem relação com a área ambiental, mas não foram analisados dentro dessa ótica.
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